A Itália está diante de uma crise silenciosa e alarmante: a população encolhe a cada ano, os nascimentos despencam e o país envelhece sem reposição. Em meio a esse cenário crítico, o governo de Giorgia Meloni adota medidas que dificultam o reconhecimento de cidadania para descendentes, especialmente brasileiros e argentinos, agravando ainda mais o que já é chamado de “inverno demográfico”.
Cidades inteiras, como Fregona, no norte do país, estão sendo esvaziadas. Escolas fecham por falta de alunos e prefeitos tentam desesperadamente atrair novas famílias com incentivos locais. No entanto, as barreiras impostas ao acesso à cidadania contradizem a necessidade urgente de repovoamento. O paradoxo se intensifica: a Itália precisa de mais habitantes, mas fecha as portas para quem quer retornar às raízes italianas.
População em queda, fecundidade em colapso
A taxa de fecundidade na Itália atingiu o pior patamar da história: 1,18 filho por mulher, muito abaixo dos 2,1 necessários para manter a população estável. Segundo o Istat, nos últimos dez anos o país perdeu quase 1,9 milhão de habitantes. São 16 anos consecutivos de queda nos nascimentos.
O governo até tenta reagir com bônus para recém-nascidos e incentivos fiscais, mas esbarra em obstáculos estruturais. A falta de creches públicas e o custo de vida alto empurram as mulheres a adiarem ou desistirem da maternidade. Resultado: menos nascimentos e uma população cada vez mais envelhecida.
Cidadania italiana mais difícil, mesmo com mão de obra em falta
Em vez de ampliar o acesso à cidadania para descendentes, o governo endureceu as regras. A nova lei aprovada em maio de 2025 impõe exigências burocráticas que tornam o processo mais lento e caro, afetando milhões de brasileiros e argentinos que têm direito ao reconhecimento.
Empresários alertam que a economia italiana já depende da mão de obra estrangeira. Katia da Ros, CEO da Irinox, declarou que sem trabalhadores imigrantes, a indústria corre risco de parar. Mesmo assim, a política atual continua restringindo a entrada de novos cidadãos em um momento de necessidade extrema.
O futuro das cidades italianas está em risco
Estudos da ONU projetam que, nos próximos 25 anos, a população italiana deve cair em mais 5 milhões de pessoas. Isso significa menos força de trabalho, maior pressão sobre o sistema de saúde e previdência e o abandono gradual de regiões inteiras do país.
Ao dificultar o acesso à cidadania e manter uma postura rígida contra a imigração, a Itália parece ignorar a urgência do problema. Especialistas alertam que a recuperação populacional depende de dois caminhos simultâneos: apoio sólido às famílias e uma política migratória mais aberta. Sem isso, o cenário que hoje assombra Fregona pode se tornar regra em boa parte do país.