Diante da crescente instabilidade geopolítica no continente europeu, a Suíça deu um passo inusitado: reativar cerca de 8 mil bunkers militares construídos entre a Primeira Guerra Mundial e o fim da Guerra Fria. Mesmo mantendo sua tradicional neutralidade, o país aposta no fortalecimento da infraestrutura de defesa como estratégia de prevenção.
Essas estruturas subterrâneas fazem parte do antigo plano de proteção conhecido como “Reduto Nacional”, criado para defender rotas estratégicas nos Alpes. Durante os anos 1990 e 2000, muitos desses bunkers foram desativados ou vendidos para uso civil, sendo transformados em adegas, centros de dados e até hotéis. Mas desde 2023, o exército suspendeu essas vendas e deu início a um plano de modernização.
Estratégia militar focada em tecnologia e autonomia
Segundo o chefe do exército, Thomas Süssli, o foco agora é transformar esses abrigos em centros de comando autônomos, com sensores inteligentes, baixo custo operacional e capacidade de resistir a ataques modernos. Os bunkers serão pontos de defesa estratégicos, com presença humana reduzida, mas com alto poder de resposta.
Inovação e participação civil fazem parte do plano
A modernização dos bunkers também envolve startups, universidades e empresas de tecnologia. O governo organizará em setembro um “Dia da Inovação” aberto ao público, buscando ideias para aprimorar os abrigos. Além do uso militar, parte dos bunkers será adaptada para acolhimento de refugiados em situações de emergência.
Na Suíça, o serviço militar é obrigatório e o modelo de exército se baseia na milícia, com reservistas treinados até os 35 anos. Durante a Guerra Fria, dois milhões de cidadãos estavam armados e prontos para mobilização imediata. Hoje, o sistema segue ativo, com munições e equipamentos armazenados em pontos de acesso rápido.
Neutralidade armada segue como pilar nacional
Mesmo sem se envolver em conflitos diretos, a Suíça mantém uma indústria de defesa ativa, com armamento de alta tecnologia e logística eficiente. A filosofia de “neutralidade armada” é levada a sério: ser neutro não significa estar indefeso. O abastecimento dos bunkers, por exemplo, segue sendo feito com apoio de redes de supermercados, garantindo estoques atualizados de alimentos e medicamentos.
A reativação dos bunkers simboliza a estratégia pragmática da Suíça: usar o que já existe, adaptando para as exigências do presente. Uma forma de preparar o país sem romper com seus princípios históricos.