Aos 17 anos, a estudante Hannah Cairo surpreendeu a comunidade científica ao resolver um enigma matemático que permanecia sem solução havia quatro décadas. O feito, considerado improvável para alguém que ainda não concluiu o ensino médio, foi revelado em 10 de fevereiro e rapidamente ganhou destaque internacional.
Filha de um desenvolvedor de software, Hannah cresceu em Nassau, nas Bahamas, recebendo ensino domiciliar ao lado dos irmãos. Desde cedo, mostrou habilidade com os números. Aos 11 anos, já dominava cálculo após iniciar seus estudos de forma autodidata na Khan Academy. Três anos depois, havia completado o equivalente a um currículo universitário avançado, estudando livros de pós-graduação e contando com orientação pontual de professores renomados, como Martin Magid, do Wellesley College, e Amir Aazami, da Clark University.
A matemática como refúgio durante o isolamento
Apesar do talento, a rotina de ensino domiciliar nem sempre foi fácil. Hannah relata que a matemática se tornou uma forma de escapar da monotonia e lidar com o isolamento da pandemia. Em 2021, durante o período em que a família permaneceu em Chicago, ela participou dos Círculos de Matemática de Chicago e, mais tarde, de um programa de verão do Berkeley Math Circle. Nessa época, já havia concluído disciplinas equivalentes a uma graduação completa.
A fundadora do programa, Zvezdelina Stankova, destacou a genialidade da jovem: “Hannah está vários níveis à frente”.
A conquista que mudou sua trajetória
Em 2023, após a mudança da família para a Califórnia, Hannah ingressou em cursos de pós-graduação em Berkeley. Foi durante uma disciplina ministrada pelo professor Ruixiang Zhang que ela se deparou com a conjectura de Mizohata-Takeuchi, proposta nos anos 1980. O problema tentava descrever padrões de energia em funções matemáticas, mas resistia a tentativas de comprovação por décadas.
Com simplicidade e precisão, Hannah demonstrou que a conjectura estava incorreta. O impacto foi imediato. Itamar Oliveira, da Universidade de Birmingham, que estudava o tema há dois anos, afirmou: “Não me lembro de ter visto nada parecido”. Já o pesquisador escocês Tony Carbery, envolvido no assunto há décadas, classificou o trabalho como “extraordinário”.
Além de derrubar uma hipótese histórica, a descoberta também influencia outras áreas da análise harmônica, incluindo a conjectura de Stein, abrindo novos caminhos para pesquisas futuras.
Uma carreira que começa pelo doutorado
Mesmo sem diploma do ensino médio ou graduação, Hannah enfrentou a resistência do sistema acadêmico. Rejeitada por seis programas de doutorado, foi aceita pela Universidade de Maryland, onde iniciará seu PhD no próximo outono. O detalhe curioso é que o doutorado será, na prática, o primeiro diploma oficial da jovem.
Humildade e paixão pela matemática
Apesar da repercussão, Hannah se mantém discreta. Em entrevistas, costuma destacar mais a paixão pelo estudo do que o reconhecimento recebido. “A matemática era outro mundo que eu podia acessar a qualquer momento apenas pensando nela. Esse processo me ajudou a vê-la de forma diferente de muitas pessoas”, afirma.
A trajetória de Hannah Cairo não apenas resgata o papel dos jovens talentos na ciência, como também reforça que grandes descobertas podem vir de lugares inesperados, desafiando tradições e quebrando paradigmas dentro da academia.
Aos 17 anos, Hannah já entrou para a história da matemática, mostrando que dedicação, curiosidade e paixão pelo conhecimento podem transformar até mesmo os enigmas mais resistentes da ciência.