O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade vai muito além da distração. Uma das características mais negligenciadas, mas também mais desgastantes é a sobrecarga mental provocada pela dificuldade em planejar, organizar e executar tarefas. A psicóloga Maria Clara Silveira, que compartilha conteúdos acessíveis sobre o tema nas redes sociais, mostra como esse sintoma específico afeta diretamente a rotina, o emocional e a autoestima de quem convive com TDAH.
Desorganização mental não é preguiça, é sobrecarga real
Pessoas com TDAH enfrentam um bloqueio real diante de tarefas simples. Mesmo lembrando do que precisa ser feito, muitas vezes elas travam porque o cérebro não consegue processar por onde começar. O que parece desleixo para os outros, na verdade, é uma batalha interna com listas mentais infinitas, tentativas de compensar a desorganização e o medo constante de falhar mais uma vez.
Esse esforço mental contínuo gera frustração. Mesmo quando a pessoa se esforça, muitas vezes o resultado não acompanha a expectativa, o que alimenta a sensação de incapacidade. Isso desgasta a autoestima e faz com que o TDAH afete não só a produtividade, mas também a forma como a pessoa se enxerga.
Sintomas emocionais que poucos reconhecem
A paralisia frente às tarefas é um dos sinais mais claros. Tudo parece urgente, tudo exige ação imediata e o cérebro entra em colapso. O resultado é uma sequência de tentativas frustradas de se organizar que terminam em ansiedade, impulsividade e um ciclo de autocrítica.
Esse padrão emocional é alimentado por anos de julgamento externo. Frases como “você é irresponsável”, “sempre esquece tudo” ou “nunca termina nada” moldam a visão que a pessoa tem de si mesma. Isso não apenas abala a autoestima, mas dificulta o processo de buscar ajuda ou compreender o transtorno de forma mais leve.
Conviver bem com TDAH exige estrutura e acolhimento
Lidar com o TDAH não significa tentar se encaixar em padrões de produtividade comuns, mas criar uma rotina que respeite o próprio funcionamento. Terapia, apoio profissional, uso de ferramentas práticas como técnicas Pomodoro e aplicativos de foco são estratégias fundamentais.
A criação de uma estrutura leve, com rotinas flexíveis e técnicas de priorização visual, ajuda a aliviar a sobrecarga. Marcar o progresso, por menor que seja, é uma forma eficaz de reconstruir a autoestima.
Os sinais que indicam que você pode estar passando por isso
Fique atento se você:
- Procrastina constantemente
- Sente que tudo é urgente
- Travou ao tentar começar tarefas simples
- Vive com pensamentos acelerados
- Sente que nada do que faz é suficiente
Se você se reconhece nesses sinais, procure um psicólogo ou psiquiatra. O diagnóstico é o primeiro passo para quebrar o ciclo de frustração e começar a adaptar a rotina de forma prática e eficiente.
TDAH é mais do que déficit de atenção, é um modo de funcionar
O TDAH não é sinônimo de fracasso, e sim de um cérebro que processa o mundo de maneira diferente. Com estrutura, apoio e estratégias corretas, essa diferença pode se transformar em força.
Pessoas com TDAH têm habilidades que o mundo precisa: pensamento fora da caixa, criatividade, energia e uma capacidade única de mergulhar em temas que as interessam. A chave é criar o ambiente certo para que essas qualidades floresçam sem o peso da cobrança tradicional.
Fontes confiáveis:
- Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5)
- Associação Brasileira de Déficit de Atenção (ABDA)