Você abre o celular só pra dar uma olhada rápida nas notícias e quando percebe, está há 40 minutos rolando a tela, preso em um ciclo de tragédias, escândalos e más notícias. Esse comportamento tem nome: doomscrolling, ou seja, o hábito de consumir conteúdo negativo sem conseguir parar. E não, isso não acontece por acaso.

O que é “doomscrolling”?

É o ato de navegar compulsivamente por notícias ruins, tristes ou perturbadoras, mesmo quando isso já está te deixando mal. A palavra vem da junção de “doom” (desgraça, desespero) com “scrolling” (rolar a tela). E o mais curioso: quanto pior a notícia, mais difícil parece largar.

Esse padrão se tornou mais comum com a pandemia, mas segue firme até hoje e pode afetar o sono, o humor, a concentração e até a saúde mental.

Por que isso vicia?

O cérebro humano foi programado para prestar atenção em possíveis ameaças. Desde os tempos mais antigos, estar atento ao perigo aumentava as chances de sobrevivência. Hoje, o cérebro não distingue uma ameaça real de uma manchete alarmante no celular. Resultado: ele entra em modo de alerta toda vez que vê uma notícia ruim.

Além disso, as redes sociais e os sites de notícia são projetados para manter você rolando. A cada nova informação, o cérebro libera pequenas doses de dopamina o mesmo neurotransmissor envolvido em outros vícios, como jogos e redes sociais.

Você sabe que está se sentindo mal, mas o cérebro quer “só mais uma notícia”, como se fosse encontrar uma resposta ou um alívio.

O efeito na mente e no corpo

Quanto mais você consome conteúdo negativo, mais o cérebro reforça o ciclo de ansiedade e preocupação. A sensação de impotência cresce, o sono piora, a mente fica agitada e a concentração vai embora.

Muitas pessoas relatam sintomas como:

  • Insônia ou dificuldade de relaxar antes de dormir
  • Angústia e preocupação constante com coisas fora do controle
  • Sensação de cansaço mental, mesmo sem ter feito nada físico
  • Vício em “checar o celular” a cada poucos minutos

É como se você ficasse preso num loop de más notícias, sem conseguir sair e sem perceber que isso está te fazendo mal.

Como quebrar o ciclo do doomscrolling

O primeiro passo é reconhecer o padrão. Preste atenção em quanto tempo você passa consumindo conteúdo negativo por dia e como isso afeta seu humor. Depois, adote medidas simples que ajudam a mudar esse hábito:

  • Estabeleça horários para se informar, como 15 minutos pela manhã e 15 à noite
  • Evite notícias ou redes sociais logo antes de dormir
  • Siga perfis e páginas com conteúdo leve, educativo ou positivo
  • Use temporizadores ou apps de controle de uso para limitar o tempo de tela
  • Substitua o hábito por outra atividade prazerosa, como leitura, música ou caminhada

Lembre-se: não é sobre se alienar ou ignorar o que está acontecendo no mundo. É sobre proteger sua saúde mental e consumir informação de forma equilibrada.

Por que é tão difícil parar?

O doomscrolling dá a ilusão de controle. Mesmo que inconscientemente, o cérebro pensa que, ao se informar ao máximo, estará mais preparado para lidar com o que vier. Mas isso é um falso alívio e quanto mais você rola a tela, mais sobrecarregado e impotente se sente.

O ciclo só se quebra com consciência, limites e um novo foco de atenção.

O doomscrolling parece inofensivo, mas se torna um hábito poderoso e desgastante. Reconhecer o padrão, entender como ele funciona e aprender a sair desse ciclo é um passo importante para cuidar da mente num mundo onde más notícias não param de aparecer. E a boa notícia é que dá pra mudar, um scroll de cada vez.

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