O que antes era tratado como a revolução da mobilidade agora enfrenta um impasse inesperado no Brasil. Mais de 80 mil carros elétricos e híbridos estão encalhados no país, sem compradores e acumulando poeira em pátios de montadoras e concessionárias. O dado alarmante, divulgado pela Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), revela uma realidade dura: o Brasil ainda não está pronto para absorver essa frota eletrificada, especialmente a importada da China.
A falta de estrutura básica, como rede de recarga e incentivos econômicos, somada ao desinteresse do consumidor médio, ainda apegado ao combustível tradicional ou a híbridos flex, criou um cenário de colapso logístico e comercial. O setor já se refere ao fenômeno como um “cemitério de elétricos”, com veículos abandonados e em contínua desvalorização.
Como o mercado elétrico ficou travado no Brasil
O problema se agravou com a corrida das montadoras para antecipar a alta dos impostos de importação prevista para 2024. Empresas como BYD e GWM inundaram o mercado com carros antes da mudança tributária, tentando driblar o aumento dos custos. Mas o consumidor não acompanhou o movimento. Sem infraestrutura adequada e com preços ainda considerados altos, as vendas não decolaram, e os estoques encalharam.
O padrão se repete nos Estados Unidos e na China. Em território americano, elétricos usados são doados por falta de compradores, e programas sociais já aceitam esses veículos como doações para revenda. Na China, imagens de cemitérios com centenas de elétricos empilhados escancararam o tamanho do problema.
O risco de o Brasil virar depósito global de elétricos encalhados
Com estoques transbordando, as montadoras enfrentam um dilema: ou reduzem drasticamente os preços, o que pode prejudicar a margem de lucro e desvalorizar o produto ou reduzem as importações, acelerando a fabricação nacional. Essa última opção começou a ser discutida, mas esbarra em fatores como custos de produção e tempo de adaptação.
O governo brasileiro iniciou um aumento gradual nas alíquotas de importação de elétricos, que passaram de 10% em 2024 e podem chegar a 35% até 2026. A medida tenta proteger a indústria local e evitar a entrada desenfreada de veículos sem destino certo, mas não resolve o problema imediato de milhares de unidades já paradas no país.
Enquanto isso, os chamados “cemitérios sobre rodas” crescem em pátios de concessionárias e portos. Carros que estão há meses parados perdem valor rapidamente e, sem compradores, se tornam passivos para as montadoras.
Oportunidade para consumidores ou risco de colapso?
Para quem está de olho em um carro elétrico, o momento pode ser ideal para negociar. Com estoques elevados, concessionárias tendem a oferecer descontos agressivos para girar o inventário. Por outro lado, a situação cria incertezas sobre o futuro da mobilidade elétrica no Brasil. Se o mercado não se ajustar rapidamente, o consumidor pode perder a confiança nesse tipo de veículo, freando o avanço do setor por anos.
A pergunta que fica no ar é se o carro elétrico ainda é uma promessa de futuro ou se já está virando um capítulo encerrado antes mesmo de decolar por aqui.