A vida no mundo dos negócios é uma montanha-russa, e a sobrevivência no mercado é um dos maiores desafios, não só para os pequenos, mas também para os gigantes. Muitas empresas brasileiras que marcaram época, sendo referências por décadas, não conseguiram resistir a crises econômicas, má gestão ou mudanças drásticas no mercado. É fascinante e um tanto triste ver como impérios construídos ao longo de anos acabaram se tornando apenas parte da história.

Vamos relembrar algumas dessas empresas famosas que, apesar de todo o sucesso, acabaram falindo ou passando por grandes transformações, e entender um pouco do que aconteceu.

Varig: do pioneirismo ao fim dos voos

A Varig, sigla para Viação Aérea Rio-Grandense, foi um verdadeiro símbolo da aviação brasileira. Fundada em 1927, ela chegou a ser a maior companhia aérea do país e uma das mais respeitadas do mundo, dominando os céus por décadas. Seus voos internacionais eram sinônimo de luxo e excelência.

No entanto, a partir dos anos 1980, a empresa começou a entrar em um declínio acentuado. Vários fatores contribuíram para isso: a crise econômica brasileira, com a hiperinflação e a desvalorização do cruzeiro (a moeda da época), prejudicou muito suas finanças. Além disso, uma gestão complexa e, por vezes, ineficiente, com problemas de governança, e a concorrência crescente com a entrada de outras companhias aéreas e de empresas “low cost”, apertaram ainda mais a situação. A Varig tinha um alto custo de operação, dívidas crescentes e uma estrutura que não se adaptou rapidamente às novas realidades do mercado. Em 2005, pediu recuperação judicial e, apesar dos esforços, em 2006, parte de seus ativos foi a leilão, marcando o triste fim de uma era.

Mesbla e Mappin: o fim das grandes lojas de departamento

Quem viveu nas décadas de 1980 e 1990 certamente se lembra da Mesbla e do Mappin. Elas eram muito mais do que lojas: eram destinos de compras, com vitrines glamourosas, variedade de produtos e um atendimento que virou referência.

A Mesbla, fundada em 1912 no Rio de Janeiro, foi por muito tempo a maior varejista do país. O Mappin, nascido em São Paulo um ano depois, se tornou seu principal concorrente e também um ícone, sendo pioneiro em iniciativas como estacionamento para clientes e televendas.

Apesar de sua grandiosidade, essas redes não conseguiram sobreviver aos desafios da modernização e da economia instável. A alta inflação no final dos anos 1980 e a forte competição com a chegada de novos modelos de varejo, como os shopping centers, foram golpes duros. A má gestão, com dívidas bilionárias e dificuldade de negociação com fornecedores, selou o destino delas. Ambas declararam falência em 1999, deixando um vazio no coração de muitos consumidores e marcando o fim de uma era no varejo brasileiro. A Mesbla, inclusive, teve um breve retorno como e-commerce anos depois, mas não com a mesma força.

Itautec: a jornada de uma gigante da tecnologia e sua transformação

A Itautec foi uma empresa brasileira de tecnologia que teve uma trajetória de ascensão e, posteriormente, uma profunda transformação. Nascida dentro do Banco Itaú em 1979 para desenvolver soluções de automação bancária, ela rapidamente se destacou. A empresa foi pioneira na fabricação de caixas eletrônicos no Brasil e chegou a ser um dos maiores fornecedores de tecnologia para o setor financeiro na América Latina e no mundo. Nos anos 1980 e 1990, a Itautec se expandiu para o mercado de computadores, chegando a produzir notebooks e até mesmo adquirir a Philco, uma tradicional marca de eletrônicos.

No entanto, a partir dos anos 2000 e intensificado pela crise financeira internacional de 2008, a Itautec começou a enfrentar desafios consideráveis. A concorrência internacional no setor de PCs se tornou acirrada, especialmente com empresas asiáticas. A valorização do dólar e a falta de investimentos em inovação tecnológica para se manter competitiva no mercado de consumo impactaram negativamente seus resultados.

Em 2013, após anos de dificuldades e tentativas de reestruturação, a Itautec tomou uma decisão estratégica: encerrou sua divisão de computadores e vendeu parte de seu capital para a japonesa OKI Electric Industry. A empresa deixou de existir com o nome Itautec no mercado de hardware e automação para focar em soluções e serviços. Assim, ela não “faliu” no sentido tradicional, mas passou por uma reestruturação profunda, com suas operações sendo absorvidas e seu nome gradualmente substituído pela marca OKI Brasil. Sua história é um exemplo de como a falta de adaptação rápida às mudanças tecnológicas e a resistência em inovar podem levar a grandes transformações, mesmo para empresas líderes.

Vasp: a derrocada de outra gigante dos ares

A Vasp, Viação Aérea São Paulo, foi outra companhia aérea brasileira de grande porte que teve um fim melancólico. De estatal a privada, chegou a liderar o mercado em certas épocas, mas sucumbiu a dívidas e à falta de manutenção em sua frota.

Comprada na privatização em 1990 pelo empresário Wagner Canhedo, a Vasp tentou expandir rotas, inclusive internacionais, e adquiriu mais aeronaves. No entanto, essas investidas pioraram a já delicada situação financeira da empresa. Ela começou a atrasar salários, reduzir rotas e se tornou inadimplente com fabricantes internacionais, que passaram a aumentar o valor dos aluguéis das aeronaves. A falta de dinheiro para manutenção levou ao sucateamento de sua frota. Em 2005, o DAC (Departamento de Aviação Civil) cassou sua autorização de operação, e suas aeronaves ficaram abandonadas em diversos aeroportos do país, um triste símbolo de sua derrocada.

Rede Manchete: o brilho que se apagou na tv

A Rede Manchete, lançada em 1983, rapidamente conquistou o público com uma programação inovadora e de alta qualidade. Com programas infantis que marcaram gerações (quem não lembra de Cavaleiros do Zodíaco, Jiraya e Jaspion?), telejornais de prestígio e novelas épicas como “Pantanal” e “Xica da Silva”, a Manchete chegou a ameaçar a liderança da TV Globo.

Contudo, a emissora enfrentou graves problemas financeiros e de gestão. A recessão econômica mundial e a proibição de serviços de telefonia 0900 (que geravam muita receita para programas de auditório) afetaram duramente o faturamento. Os custos de operação aumentaram, especialmente com a alta do dólar para a compra de direitos de conteúdo internacional. Dívidas com o governo, com fornecedores e atrasos salariais se tornaram constantes, levando à fuga de funcionários e afiliadas. Apesar de várias tentativas de reestruturação, a crise se aprofundou e, em 1999, a emissora saiu do ar, dando lugar à RedeTV! O fim da Manchete foi um marco doloroso na história da televisão brasileira.

Banco Nacional: o gigante financeiro que ruiu

O Banco Nacional foi uma das maiores instituições financeiras do Brasil, famoso por patrocinar o piloto Ayrton Senna, o que lhe dava uma visibilidade e credibilidade enormes. Fundado em 1944, ele cresceu de forma acelerada ao longo das décadas.

No entanto, nos anos 1990, o banco começou a enfrentar sérios problemas. Relatórios internos e auditorias do Banco Central revelaram uma contabilidade fictícia e a existência de contas fantasmas que mascaravam uma situação financeira precária. Em 1995, o Banco Central decretou a intervenção na instituição. A gestão fraudulenta, a má administração e uma série de decisões arriscadas levaram o banco à falência. A queda do Banco Nacional foi um dos maiores escândalos financeiros do Brasil, deixando milhares de correntistas e credores em uma situação delicada e reforçando a necessidade de uma supervisão rigorosa no setor bancário.

Esses exemplos mostram que, no mundo dos negócios, o sucesso não é eterno e a vigilância constante, a adaptação às mudanças e uma gestão financeira sólida são essenciais para qualquer empresa, por maior que seja, sobreviver no longo prazo.

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